A Escola de Enfermagem (Porto) da Universidade Católica Portuguesa assinala o Dia Mundial do Dador de Sangue com a partilha do testemunho da alumna e enfermeira Tânia Cunha.
A enfermeira partilha a sua experiência num serviço de sangue, área onde iniciou a sua carreira e onde permanece até hoje: “Nos primeiros anos, vi o dador como o indivíduo saudável que era o foco de atenção dos cuidados de enfermagem, muito centrada na técnica de colheita, vigilância e recuperação. Entretanto, comecei a acreditar — com mais inconformismo do que clareza — que a Enfermagem nesta área não podia reduzir-se apenas ao gesto técnico. Volvidos 10 anos de exercício de funções, procurei formação especializada.”
Foi através do mestrado em Enfermagem Comunitária, na Católica, que Tânia Cunha refere ter passado a “ver os dadores como uma comunidade com identidade própria, necessidades específicas e um papel ativo na saúde coletiva”.
A enfermeira sublinha a importância vital dos dadores de sangue no sistema de saúde, lembrando que sem componentes sanguíneos não é possível assegurar muitos tratamentos médicos essenciais. “A verdade é que a necessidade de sangue é diária e constante — só em Portugal, são necessárias cerca de 1000 unidades por dia. Os cerca de 450 ml de sangue total recolhidos são processados e separados em três componentes com prazos de validade distintos: eritrócitos (40 dias), plasma (até 2 anos, se congelado, ou usado para o fabrico de medicamentos derivados do plasma) e plaquetas (apenas 5 a 7 dias). Isto significa que não podemos “armazenar” indefinidamente e que o sistema depende de uma renovação contínua e equilibrada de dádivas ao longo do tempo.”
“A dádiva de sangue é um ato altruísta, voluntário e benévolo, sem qualquer benefício ou contrapartida individual. A única “vantagem” é emocional — a satisfação de poder ajudar o outro, de forma desinteressada e solidária. No entanto, é também essencial garantir que a dádiva nunca prejudica o dador. Por isso, a sua condição de saúde é sempre avaliada previamente, e a elegibilidade é determinada com base na história clínica, medicação habitual, parâmetros vitais e critérios objetivos de segurança”, afirma.
Num tempo em que a sociedade está mais informada e consciente, a enfermeira defende que os profissionais desta área devem assumir um papel ativo na educação para a saúde e na promoção da cidadania. “Precisamos de olhar para a dádiva de sangue como uma oportunidade de intervenção comunitária. Os enfermeiros podem e devem liderar projetos de promoção, recrutamento e fidelização em parceria com escolas, empresas, associações locais e outras entidades.”
Neste Dia Mundial do Dador, o seu apelo é claro: “mais do que agradecer, é tempo de valorizar. Celebrar os nossos dadores colocando-os, com justiça, no centro do sistema que ajudam silenciosamente a manter de pé.”